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Do caos à rotina

Nunca fui muito fã de rotinas. Sempre me pareceu algo muito robótico, estagnado. Algo que impede surpresas, evolução, revolução e transformação. Eu sei, pode parecer estranho ler isto de alguém que também tem dificuldades em ter as coisas fora do controlo, mas é verdade, para mim, o dia deve ser meio doido mesmo. Ter um pouco de caos para que eu possa sentir aquela adrenalina da correria.

 

Yesss! I’m alive.

 

Gosto de sentir que estou no filme Missão impossível onde é no último minuto que o herói consegue desbloquear a bomba e impedi-la de explodir. Aquela adrenalina onde sentimos que por pouco não conseguíamos, mas no final conseguimos fazer uma série de coisas, porque corremos tanto que deu para fazer tudo e em tempo recorde.

 

Não foi à toa que escolhi a área da arte e da criatividade para estudar. O design foi uma escolha para mim, pelo desafio diário de fazer coisas novas, trazer soluções novas, muitas vezes, em tempo recorde. Uau! Assim a vida não vai ser aborrecida, sempre igual. Cada projeto traz algo novo para pensar, algo novo para pesquisar e conhecer mais e mais.

 

Onde tudo começou...

 

Na faculdade apesar de seguir alguma rotina porque conta do horário das aulas, nunca sabia onde e como o dia ia acabar, nem a que horas. Sentia-me livre, feliz por fazer algo que me fazia sentir tão viva, criativa e inovadora. Cada briefing era uma nova descoberta.

 

Mais tarde, no meu percurso profissional, juntar a parte da adrenalina criativa, de criar coisas novas com a parte de gestão da equipa, era como ter o bolo e a cereja no topo. Wow!

 

Contudo, esta correria, esta adrenalina, também tinha o seu lado menos entusiasmante, essa correria desenfreada por coisas novas, também me levava ao cansaço e, por vezes, até a alguma exaustão física e mental.

 

A realidade! O outro lado.

 

Todo o dia criar coisas novas, todo o dia tentar resolver um problema que parecia já estar fechado, tornava-se uma espiral de catástrofe atrás de catástrofe por resolver.

 

Para acalmar um pouco o teletrabalho ajudava pelo menos a abrandar a correria de apanhar o comboio em hora de ponta, andar no meio da multidão com o objetivo de chegar mais um dia a horas no escritório. Ufa, sabia-me bem essa calma da manhã, onde podia saborear o pequeno-almoço, ainda que em frente ao computador, mas com calma sem ter que engolir tudo à pressa.

 

Para onde corremos...

Há uns tempos coloquei um vídeo no meu Instagram que falava exatamente, sobre esta correria desenfreada, que outrora me fazia sentir viva, mas agora me fazia sentir, cansada.

 

Estava a correr para o quê, exatamente? Cada dia havia um novo objetivo, algo novo a alcançar, mas o sabor a vitória passava tão rápido, era tão efémero que passava a ter o sabor semelhante ao de uma rotina, contudo, uma rotina caótica.

 

Hora de enfrentar a realidade

 

Nasceu a minha filhota. Um fôlego e um sopro novo na minha vida. Por outro lado, muitos ajustes e mudanças, tiveram de ser serem feitas na minha vida de até então. Afinal, ainda tinha muito a aprender sobre mim.

 

Auto-conhecimento = consciência

 

Lá estava eu em mais uma consulta de terapia, exausta. Com vontade de chorar pois já não podia mais. Todos os dias a correria de último minuto para chegar à creche a tempo. Fosse no horário das 9h fosse no horário das 11h, parecia que nenhum funcionava. Nem eu sei bem como fazia, tinha sempre tudo programado na minha cabeça, mas o plano saia sempre ao lado. Agora já não era só uma cabeça, uma pessoa para tomar conta, mas duas. Agora, não era apenas o imprevisto do comboio não aparecer a horas, mas sim uma fralda suja no minuto antes de sair de casa, a criança que queria parar 50 vezes pelo caminho para admirar cada pedra da calçada ou folha caída no chão, enfim, cada dia uma coisa nova, uma coisa diferente. O tempo à Tom Cruise já não estava a funcionar.

 

Acordava de manhã já com o frio na barriga, ansiosa, pois após uma noite má de sono em que havia acordado umas quantas vezes, tinha de ter forças para fazer tudo em tempo recorde, pois não havia conseguido acordar no primeiro toque do despertador.

 

Havia vezes em que conseguia chegar a tempo e outras em que pedia perdão às educadoras pelo atraso, sentindo-me culpada, uma péssima mãe pois não estava a conseguir organizar-me de forma a ir com calma sem ter de estar a acelerar a mim e à minha filhota.

 

Uma nova Rosana

 

Quando nasce um filho, uma nova pessoa nasce em nós também. Ou melhor, o que estava lá e precisava ser mexido, trabalhado, é colocado em evidência para que nos debrucemos sobre ele.

 

Essa falta de rotina tanto me fazia andar agitada de dia como de noite. Uma média de uma a duas horas, era o tempo que levava para fazer adormecer aquela fofura que mais parecia um leão indomável, que tinha vontade de fazer tudo menos dormir.

 

Procurei então olhar para dentro, perceber o que me deixava agitada e percebi que algo tinha de mudar. Foi então que passei a compreender que rotina não significava ausência de algo entusiasmante, divertido e que falta de rotina, sim, podia levar ao caos, à exaustão.

 

Tinha mesmo de fazer o reset e aprender a viver numa rotina com sabor a adrenalina, a algo novo. Passei a perceber que a correria não me permitia estar presente para aqueles que realmente interessam na minha vida, aqueles que amo e que a rotina certinha, cronometrada, sem um cabelo fora do lugar também não.

 

Hoje estou a viver nesta busca de encontrar um equilíbrio entre a rotina necessária para evitar o caos e o espaço necessário para o novo, o espontâneo nessa mesma rotina.

 

De que vale uma rotina toda certinha se nela não há tempo para os nossos, tempo para conversar, brincar, olhar nos olhos. Por outro lado, de que vale a correria sem esse mesmo tempo também para parar respirar e olhar em volta, estar presente.

 

Agora vivo nesta procura entre alinhar da melhor forma o meu dia a dia, para que ele tenha um pouco de rotina e outros tantos de surpresa. A rotina só tem valor se inserirmos aquilo que realmente vale a pena, quem amamos e o que amamos fazer.

 

Contudo, é preciso lembrar também que nada é perfeito, é preciso aceitar que há dias que fogem realmente do nosso controlo e aí devemos parar e olhar para a razão essencial de fazermos o que estamos a fazer.

 

Talvez não seja do dia para a noite que vou deixar essa correria desenfreada, mas um coisa é certa vale a pena tentar, vale a pena

 
 
 

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