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O Relógio Biológico

Aos 25/26 anos, o meu relógio biológico já tocava.

Não apenas tocava, como gritava em mim.

A vontade de ser mamã era grande, mas a coragem já nem por isso...


Depois de viver e conviver, na primeira pessoa, com crises de ansiedade, o cenário de ser mamã não parecia ser tão simples assim.


Já não era só o – “Logo se vê...”

Já exigia uma preparação mental, apesar da vontade de ser mãe ser enorme, teria que me preparar para o que aí vinha.


As vozes do povo

Os anos foram passando, a estabilidade profissional chegou, o casamento corria bem, só faltava mesmo : o bebé.


As vozes do povo já me informavam:

-A tua irmã e primas já foram mamãs...

- Já está na tua hora...

- Não deixes para muito tarde... Olha que és a mais velha, depois vais levar o bebé à escola como se fosses avó, em vez de mãe...


A verdade, é que algo me dizia que ainda não era hora, que ainda faltava um ponto a preparar : a mente. E eu, e só eu é que saberia qual o momento certo. Afinal de contas quem iria vivenciar esse momento era eu.


Auto-conhecimento – a chave


Foi então que comecei a fazer terapia com o objetivo de perder o medo de ser mamã.

Mal sabia eu, o quanto iria aprender e o caminho que iria percorrer para superar esse medo.


Coisas de extraterrestres

Cada vez que pensava apenas na gravidez em si só, vinham-me pensamentos estranhos como : Como vais fazer isto? Como vais lidar com um ser a crescer em teu ventre?...


Assim que pensava, lembrava-me dos filmes em que a atriz engravida do alien e o alien começa a crescer e a mexer-se bruscamente no ventre e rebenta-o para sair.


Sim, era assim mesmo que eu imaginava a gravidez... eu disse-vos que a minha imaginação era bastante criativa, digna de filmes de Spielberg.


O medo das crises de ansiedade

Como assim, ter um ser que eu nem conheço a mexer-se dentro de mim...

E se eu tiver uma crise de ansiedade por não saber lidar com o simples mexer do bébé? Como faço? Não posso tirar a barriga por uns instantes, como aquelas barbies que se desmontavam todas, e voltar a colocar assim que passar a crise e eu estiver novamente preparada...


Aí, que cabeça doida a minha! Se partilhar isto com alguém vão pensar que sou louca, até porque afinal, dizem por aí :

-É tão natural ser mãe! Nós mulheres nascemos prontas para isso. É só ter! Não é preciso pensar...


Mas sim, no meu caso, eu não conseguia, não pensar. Aliás, faz parte desta minha natureza de CSI, querer investigar tudo ao pormenor, perceber tudo desde a origem...


E a verdade é que com a terapia percebi que não precisava funcionar como as outras mulheres, eu precisava simplesmente encontrar a fórmula certa para mim.


E assim foi, através de meses de terapia, fui sabendo mais sobre mim, conhecendo-me e desconstruindo uma série de ideias que haviam sido “inseridas” em mim como um chip.


Elas estavam lá, tão subtis que passavam bem despercebidas. Eu pensava que era eu a decidir de forma lógica, racional,... e afinal a minha visão das coisas estava a ser moldada por uma lente imposta em mim, construída pela visão de outros e que acabava por manipular a minha auto-percepção, a consciência de quem eu realmente era, a minha autenticidade.


As vozes vs o medo


Ai! Tu pensas demais. - diziam essas vozes externas, mais uma vez, julgando-me, como se eu sim, fosse um OVNI.


- Porque pensas tanto - diziam elas.


E pensava eu:

- Olha também gostava de saber, mas eu sou assim, querem que faça o quê?...

Não deve ser mais fácil para mim conviver com este gigante (o medo) que sempre que quero dar um passo, exige que lhe peça permissão para ele diminuir e eu poder avançar...


A hora chegou


Conhecer de verdade : a Rosana, com as lentes certas, fez toda a diferença. Aos poucos, fui sentindo-me mais preparada e começando a calar todas estas vozes que me rodeavam e me impediam de simplesmente ser HUMANA.


Ironia das ironias, foi numa manhã, em plena pandemia, que recebi 2 notícias que me deixaram de queixo caído : 2 testes positivos em que um deles iria mudar de vez a minha vida. Sim, foi então que soube que tinha acabado de apanhar o covid mas que também, estava grávida...


E ali estava eu, 31 anos, em plena pandemia, grávida pela primeira vez.... com alguns receios mas também com a plena convicção de que esta era a hora que tinha que ser, que nada era por acaso. Por incrível que pareça foi um dos dias mais felizes na minha vida. Um novo recomeço...


(continua)

 
 
 

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